De Maria Rita a Irmã Dulce
A menina Maria Rita foi uma criança cheia de alegria, adorava brincar de boneca, empinar arraia e tinha especial predileção pelo futebol - era torcedora do Esporte Clube Ypiranga, time formado pela classe trabalhadora e os excluídos sociais.
Aos sete anos, em 1921, perde sua mãe Dulce, que tinha apenas 26 anos. No ano seguinte, junto com seus irmãos Augusto e Dulce (a querida Dulcinha), faz a primeira comunhão na Igreja de Santo Antônio Além do Carmo.
A vocação para trabalhar em benefício da população carente teve a influência direta da família, uma herança do pai que ela levou adiante, com o apoio decisivo da irmã, Dulcinha. Aos 13 anos, graças a seu destemor e senso de justiça, traços marcantes revelados quando ainda era muito novinha, Irmã Dulce passou a acolher mendigos e doentes em sua casa, transformando a residência da família – na Rua da Independência, 61, no bairro de Nazaré, num centro de atendimento. A casa ficou conhecida como ‘A Portaria de São Francisco’, tal o número de carentes que se aglomeravam a sua porta. Também é nessa época que ela manifesta pela primeira vez, após visitar com uma tia áreas onde habitavam pessoas pobres, o desejo de se dedicar à vida religiosa.
Em 08 de fevereiro de 1933, logo após a sua formatura como professora, Maria Rita entra então para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Em 13 de agosto de 1933, recebe o hábito de freira das Irmãs Missionárias e adota, em homenagem a sua mãe, o nome de Irmã Dulce.
A primeira missão de Irmã Dulce como freira foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação, no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa, em Salvador. Mas, o seu pensamento estava voltado mesmo para o trabalho com os pobres. Já em 1935, dava assistência à comunidade pobre de Alagados, conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna do bairro de Itapagipe. Nessa mesma época, começa a atender também os operários que eram numerosos naquele bairro, criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da Bahia. Em 1937, funda, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup, o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações – o Cine Roma, o Cine Plataforma e o Cine São Caetano. Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugura o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.
O incentivo para construir a sua obra, Irmã Dulce teve do povo baiano, de brasileiros de diversos estados e de personalidades internacionais. Em 1988, ela foi indicada pelo então presidente da República, José Sarney, com o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz. Oito anos antes, no dia 7 de julho de 1980, Irmã Dulce ouvia do Papa João Paulo II, na sua primeira visita ao país, o incentivo para prosseguir com a sua obra.
Irmã Dulce e o Papa João Paulo II voltariam a se encontrar em 20 de outubro de 1991, na segunda visita do Sumo Pontífice ao Brasil. João Paulo II fez questão de quebrar o rigor da sua agenda e foi ao Convento Santo Antônio visitar a religiosa baiana, cuja saúde já se encontrava bastante debilitada em função de problemas respiratórios. Cinco meses depois da visita do Papa, os baianos chorariam a morte do Anjo Bom do Brasil.
Irmã Dulce morreu em 13 de março de 1992, pouco tempo antes de completar 78 anos. No velório, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador, políticos, empresários, artistas, se misturavam a dor de milhares de pessoas simples e anônimas. A fragilidade com que viveu os últimos 30 anos da sua vida – tinha 70% da capacidade respiratória comprometida - não impediu que ela construísse e mantivesse uma das maiores e mais respeitadas instituições filantrópicas do país, uma verdadeira obra de amor aos pobres e doentes.
Vida e Obra do Anjo Bom
1914
Nasce Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, à rua São José de Baixo, 36, no bairro do Barbalho, na freguesia de Santo Antônio Além do Carmo, cidade de Salvador, Bahia, Brasil. Filha do cirurgião dentista Dr. Augusto Lopes Pontes e D. Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes
13 DEZ
É batizada na igreja de Santo Antônio Além do Carmo.
1921
1922
1927
1929
14 FEV
Foi matriculada na Escola Normal da Bahia, no 1º ano do curso de professora.
1932
Recebe o sacramento da crisma, das mãos do Arcebispo D. Augusto Álvaro da Silva.
9 DEZ
Forma-se em professora pela Escola Normal da Bahia (atual ICEIA).
1933
Faz a profissão de Terceira Franciscana, recebendo o nome de Irmã Lúcia.
8 FEV
Ingressa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão, Sergipe.
13 AGO
Recebe o hábito das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Em homenagem à mãe, recebe o nome de Irmã Dulce.
1934
Emite sua Santa Profissão de votos simples temporários de Noviciado.
SET
Vem para Salvador, trabalhar na abertura do Hospital Espanhol, em companhia das Irmãs Tabita e Capertana, exercendo as funções de enfermeira, sacristã, porteira e responsável pelo raio X.
1935
FEV
Passa a ensinar no Curso Infantil e lecionar Geografia e História no Colégio Santa Bernardete, no Largo da Madragoa, pertencente à sua Congregação.
JUN
Começa a trabalhar com os operários da Península Itapagipana.
6 DEZ
Inaugura uma biblioteca para os operários da Fábrica Penha, em Itapagipe.
1936
Funda com os operários Ramiro S. Mendonça, Nicanor Santana e Jorge Machado, a União Operária São Francisco, primeira organização operária católica da Bahia.
1937
15 MAI
A Serva de Deus inicia seu 2º noviciado.
15 AGO
Emite sua Santa Profissão de votos simples perpétuos. Ajuda a fundar os cinemas Plataforma, São Caetano, cuja renda contribuía para a manutenção do Círculo Operário da Bahia.
1939
Inaugura o Colégio Santo Antônio, no bairro da Massaranduba, para operários e seus filhos, com 300 crianças no turno matutino e 300 adultos à noite.
Ocorre a invasão das cinco casas, na Ilha dos Ratos, que irá definir o futuro da ação social e religiosa da Serva de Deus.
1941
Conclui o curso de Oficial de Farmácia.
A Serva de Deus inicia a obra do quilo, para ajudar as famílias carentes junto ao Círculo Operário.
1946
1947
É instalado o Convento Santo Antônio, com as Irmãs Plácida e Hilária e, a Serva de Deus como a sua 1ª Superiora, junto ao Círculo Operário da Bahia.
15 NOV
Recebe o título de Auxiliar de Serviço Social.
1948
Inaugura o Cine Teatro Roma.
1949
1950
16 ABR
Inaugura nas dependências do Círculo Operário da Bahia o SAPS (Serviço de Alimentação da Previdência Social) com almoço a preços populares (2 tostões).
1959
Funda a Associação Obras Sociais Irmã Dulce.
15 AGO
Instala oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce.
1960
Inaugura o Albergue Santo Antônio, com 150 leitos.
1964
1965
1974
1975
1976
Falece seu pai, Dr. Augusto Lopes Pontes, que além de se constituir num baluarte ao lado de sua filha, na construção e consolidação das suas obras, foi um grande incentivador de outras obras sociais, destacando-se entre elas o “Abrigo Filhos do Povo”, situado no bairro da Liberdade.
1980
A Serva de Deus tem seu primeiro encontro com o Papa João Paulo II.
1981
Cria a Fundação Irmã Dulce.
1983
Inaugura o novo Hospital Santo Antônio, com 400 leitos.
1984
Funda a Associação Filhas de Maria Servas dos Pobres, com o intuito de manter o carisma da sua Obra.
1988
1989
A Serva de Deus é internada com problemas respiratórios.
1991
Recebe no seu leito de enferma, a visita do Papa João Paulo II, pela última vez.
1992
Numa sexta feira, morre às 16:45, aos 77 anos, no Convento Santo Antônio, situado na Av. Dendezeiros, depois de sofrer por 16 meses.
15 MAR
As 20:00h, é sepultada no altar do Santo Cristo, na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Cidade Baixa, em Salvador, Bahia, Brasil.
Fonte das imagens e textos: https://www.irmadulce.org.br/portugues/religioso/vida-de-irma-dulce